O auxílio dos peludos
10 de outubro de 2013 – Atualizado em 10/10/2013 – 12:00am
Por: Simone Cândida
Após um surto psicótico, o paciente X., de 18 anos, passou três semanas sendo medicado na Vila Fraternidade, área de internações de curto prazo do Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel. Semana passada, encerrado o tratamento, o rapaz recebeu alta e surpreendeu os pais e médicos com um pedido: queria continuar indo ao hospital às segundas-feiras à tarde. O motivo? Não queria perder contato com Nega Maria, Bibi e Bibiah, as três cadelas terapeutas que visitam a instituição uma vez por semana, num programa de terapia assistida por animais.
Integrantes do Projeto Pelo Próximo, que utiliza a pet terapia em várias instituições do Rio, os cães, acompanhados por voluntários, vêm ajudando médicos, psicólogos, terapeutas e enfermeiros a se comunicarem com os doentes e, em muitos casos, são o único estímulo para alguns internos se levantarem do leito. Há três meses implantado no Pedro Ernesto como projeto piloto, em 2014 o programa poderá ser estendido ao setor de psiquiatria infantil.
A terapia com os peludos começa com uma visita aos quartos dos pacientes. Enquanto voluntários preparam jogos e materiais que serão usado no espaço de convivência, três integrantes do projeto percorrem os leitos com os cães na guia, convidando os internos a participarem das brincadeiras.
Em um hora de sessão, o grupo é estimulado a brincar de jogo da memória, jogo da velha, a fazer desenhos, pentear e embelezar os cães ou simplesmente tocar nos animais. Alguns pacientes são levados para caminhar com o cachorro na guia pelo pátio.
– Nosso projeto tem 20 cães terapeutas e duas calopsitas, mas neste trabalho usamos apenas três cães. Como se trata de pacientes psiquiátricos, o cão é usado como um ponto de equilíbrio, não fazemos atividades mais agitadas – diz Roberta Araújo, coordenadora do Pelo Próximo, acrescentando que o trabalho é supervisionado por um profissional de saúde.
Para criar vínculo com os pacientes, a equipe leva sempre os mesmos animais. O hospital exige que eles tenham carteira de vacinação em dia, tomem banho antes de cada sessão e usem remédio contra pulgas.
Segundo a psiquiatra Bianca Magnago Paiva, uma das profissionais que acompanham a implantação do projeto, os animais têm facilitado a socialização e a recuperação dos pacientes, que, entretidos em escovar o pelo do bicho ou em brincar num dos joguinhos de interação, exercitam a memória ou simplesmente a fala. Já houve casos de internos em depressão profunda que não reagiam ao tratamento convencional e, após algumas semanas de contato com cães, passaram a conversar e a sair do quarto.
A fonoaudióloga Fernanda Estela Doringa, voluntária do projeto junto com a cadela Bibiah, diz que os pacientes transferem seu afeto para o cão e passam a falar e a contar seus problemas para o animal.
– Ele falam com o cão, choram, desabafam – resume.
Pesquisas comprovam que animais de estimação trazem benefícios para a saúde, ajudando a baixar a pressão sanguínea, a ansiedade e até aumentando a imunidade.
Fonte: O Globo