Criador de animais ou acumulador compulsivo?
19 de janeiro de 2017 – Atualizado em 19/01/2017 – 12:00am
Possuir um animal de estimação requer alguns cuidados, os quais englobam aspectos mais diversos possíveis. É preciso conhecer bem o comportamento associado à espécie que se deseja criar, assim como os hábitos alimentares e exigências mínimas como aquelas inerentes ao espaço mínimo, ambiência, grau de luminosidade, necessidade de exercícios, direito à reprodução, condições de ventilação, dentre outros.
É comum vermos, quase que diariamente, grupos de pessoas (organizadas em sociedade civil ou não) que se ocupam em resgatar animais abandonados, os quais, por encontrarem-se dispersos nas ruas (errantes), representam riscos dos mais diversos, colocando, quase sempre, a saúde da população humana e, até mesmo, de outros animais em perigo.
Em algumas situações, é possível perceber, e até mesmo comprovar, que a posse de animais errantes que foram recolhidos a um lar, dá-se de forma fanática e desprevenida, caracterizando-se, por isso, uma ameaça à saúde pública e ao bem-estar do próprio animal, bem como àqueles que já se encontram no domicílio, inclusive o tutor e seus familiares.
Vale destacar que o abrigo de animais de maneira compulsiva, geralmente é movido pela paixão aos animais ou pela compaixão deles em estado de abandono ou maus tratos. O que culmina na perda total do controle populacional em um determinado ambiente.
Segundo Raymundo de Lima (2011), o acumulador compulsivo é incapaz de organizar o seu espaço de convivência, por terem perdido o autocontrole para adquirir ou se desfazer daquilo que, subconscientemente, caracteriza-se como investimento simbólico. Também conhecida como colecionismo, esta prática começou a ser tratada como fenômeno de ordem emocional em 1981 principalmente nos Estados Unidos e Inglaterra. A identificação de um colecionador é simples de se fazer, uma vez que é aquele indivíduo que possui elevada quantidade de animais de estimação sem providenciar os cuidados necessários.
É de fundamental importância entender que a quantidade de animais acolhidos/abrigados não caracteriza o acúmulo, mas sim a condição de vida e funcionalidade daquela pessoa, bem como dos animais resgatados. Alterações quase sempre possíveis de serem percebidas caracterizam-se pela instabilidade no grupo, apresentação de postura física inadequada pela restrição na dimensão do espaço onde são criados, tédio e comportamento competitivo.
Nesse sentido, é possível perceber que, não raro, a sociedade está repleta de pessoas com o perfil descrito acima, sendo necessário que um bom trabalho de saúde pública, enfatizando os riscos sanitários, ambientais e epidemiológicos, seja realizado pelos órgãos ligados direta e indiretamente às três esferas de governo, como forma de conscientizar a população acerca dos perigos associados a práticas dessa natureza.
Dr. Andreey Teles
Médico Veterinário – CRMV 00645-AL
Presidente da Comissão Regional de Saúde Pública Veterinária