Acidentes Domésticos por Picadas de Escorpiões
23 de novembro de 2017 – Atualizado em 23/11/2017 – 12:00am
Os escorpiões são mais ativos no período noturno e surgem com mais frequência nos meses quentes e úmidos do ano, mais precisamente, a partir do mês de outubro até o final do verão, que ocorre no mês de março. É neste período do ano que eles encontram maior oferta de alimentos, como baratas e outros insetos atraídos por lixo e alimentos mal acondicionados e expostos no meio ambiente. A presença destas condições é essencial para a instalação peridomiciliar deste sinantrópico.
No Brasil é cada vez maior o aumento dos casos de escorpionismo, e acredita-se que as principais causas é a destruição do seu habitat, com a expansão cada vez mais desordenada das cidades e consequente ocupação das áreas naturais.
Dados mais recentes afirmam que, já estão catalogadas cerca de 1.600 espécies e subespécies de escorpiões distribuídas em 116 gêneros diferentes em todo o mundo, existindo praticamente em todos os continentes, exceto na Antártida. A riqueza e diversidade da escorpiofauna sul-americana é bastante expressiva. A região com maior diversidade em escorpiões compreende o Equador, sul da Colômbia, norte do Peru e oeste do Brasil (OLIVEIRA ET AL, 2012).
No Brasil, são registradas cerca de 140 espécies escorpiões, as quais encontram-se distribuídas por todos os estados, fator este comprovado por relatos de casos de escorpionismo em todas as unidades da federação. Dados do Ministério da Saúde indicam a ocorrência de cerca de 8.000 acidentes/ano, com um coeficiente de incidência de aproximadamente 3 casos/100.000 habitantes e uma letalidade variando em torno de 0,6%. O número de acidentes envolvendo escorpiões aumentou 110% em seis anos no Nordeste do Brasil, região onde 46,5% de todos os casos de escorpionismo no país foram registrados.
São três as espécies de escorpiões do gênero Tityus, responsabilizadas por acidentes envolvendo humanos: T. serrulatus (escorpião-amarelo), responsável pela maioria dos casos mais graves; T. bahiensis (escorpião marrom) e T. stigmurus (Escorpião-amarelo-do-nordeste). O mais comum na região nordeste é o gênero Tityus stigmurus, mais conhecido como escorpião amarelo, que embora também seja venenoso, seu veneno tem uma letalidade menor.
Uma pesquisa realizada pelo Sistema de Informação de Agravos e Notificações (SINAN Net), do Ministério da Saúde, divulgada no ano de 2016, apontou Alagoas como um dos estados em que há muitos registros de picadas de escorpião. Segundo dados dessa mesma pesquisa, entre os anos de 2010 a 2015, Alagoas registrou 35.093 casos, ocupando o quarto lugar no ranking, atrás apenas de Pernambuco, Bahia e Minas Gerais.
De acordo com informações do Portal Cada Minuto (2017), de janeiro até setembro deste ano, 2.013 pessoas foram atendidas no Hospital Escola Dr. Hélvio Auto (HEHA), vítimas de picada de escorpião, uma pequena redução com relação ao ano de 2016, onde no mesmo período, 2.189 casos foram registrados.
O local com maior número de ocorrência, por picada de escorpião em Alagoas, é o bairro do Jacintinho e parte alta de Maceió, segundo dados da Secretária Estadual de Saúde.
Dentre os procedimentos e condutas que colaboram com a diminuição dos riscos de ocorrência de escorpiões, a limpeza da casa e dos terrenos baldios, constitui-se como sendo um dos mais adequados.
O acúmulo de material de construção e entulho favorece a presença de escorpiões que encontram ambiente propício para procriarem. Nem sempre é possível impedir a proximidade desses animais e, nesse caso, sacudir a roupa ao vestir e bater sapatos e botas ao calçar são providências essenciais para se prevenir a ocorrência de acidentes.
Se algum dia for preciso juntar material de construção em casa, deve-se mover de lugar as pilhas a cada quinze dias, de forma a evitar que escorpiões as utilizem como abrigo. Já o lixo deve estar bem-acondicionado em sacos e lixeiras para evitar a proliferação de baratas e outros insetos.
Outras recomendações associadas à prevenção são manter armários, mesas, camas e outros móveis afastados pelo menos um palmo das paredes; vasculhar frestas em rodapés e paredes e providenciar o reparo, se houver; usar tampa com sistema ‘abre e fecha‘ ou aparato que sirva de cobertura para ralos, especialmente, quando não estiverem em uso; manter gramados bem aparados; e, em locais favoráveis ao aparecimento de escorpiões, orienta-se que, ao entardecer, seja providenciada a vedação de frestas de portas.
O controle químico (uso de pesticidas, por exemplo) não é eficaz como medida de combate aos escorpiões, que têm capacidade de permanecer longos períodos sem se movimentar nos abrigos, impedindo seu contato com o pesticida. A aplicação de pesticidas pode apenas desalojar os escorpiões, afugentando-os para o interior das residências, o que aumenta a possibilidade de acidentes.Por isto, é que se prioriza o controle mecânico, ou seja, a eliminação de condições que ofereçam abrigo e alimento a estes.
Inicialmente, deve ser feita a retirada de possíveis abrigos aos escorpiões por todo o imóvel: verificar depósitos de materiais, livros e documentos, caixas de papelão, armários, colchonetes, roupas de cama e cortinas.
Ao ser picado, é recomendado que a vítima seja encaminhada imediatamente a uma unidade de saúde, para que o médico avalie a necessidade de se tomar ou não o soro.
Além das crianças, os idosos e pessoas com imunidade baixa são as maiores vítimas de complicações nos casos de picadas de escorpião. Os animais de estimação como gatos e cachorros também podem ser picados.
Todavia, em casos de acidentes, recomenda-se que não faça nenhum tipo de automedicação, sendo, o mais correto, procurar imediatamente o serviço de saúde mais próximo. Animais acidentados deverão ser encaminhados ao Médico Veterinário para as providências necessárias.
* Dr. Paulo Fernando Wianês Fonseca Duarte
Médico Veterinário – CRMV/AL 01120
Membro da Comissão Regional de Saúde Pública Veterinária
Fonte:
Oliveira HFA, Lopes YACF; Barros RM, Vieira AA, Leite RS. Epidemiologia dos acidentes escorpiônicos ocorridos na Paraíba, nordeste do Brasil. Biofar: RevBiol e Farm 2012; 08 (02): 86-94.