Galinha atua como co-terapeuta em tratamento de pacientes com paralisia cerebral
26 de julho de 2018 – Atualizado em 26/07/2018 – 12:00am
Por Mariane Reghin (com edição de Cassiano Ribeiro)
Pacientes de uma clínica focada em recuperação neurológica em Curitiba (PR) têm recebido uma visitante frequente e inusitada durante as sessões de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. É a galinha Laila. O animal atua como co-terapeuta em tratamentos de pessoas com paralisia cerebral. A ideia começou de uma forma despretensiosa, mas acabou gerando resultados tão positivos que a Laila é hoje uma peça fundamental nos tratamentos clínicos.
A iniciativa foi de Manuella Balliana Maciel, psicóloga que trabalha com a Terapia Assistida por Animais (TAA) há 15 anos e implementou o método no CERNE, Centro de Excelência em Recuperação Neurológica. “Um paciente deficiente visual queria entender como os animais andavam e só trabalhávamos com cães. Então tive a ideia de levar a galinha Laila para ele conhecer e fazer uma visualização tátil”, explica a profissional.
A experiência auxiliou no tratamento do paciente de maneira surpreendente e despertou a curiosidade de outros, que também quiseram interagir com Laila. “Alguns deles tinham medo de cachorro e, ao ter contato com a galinha, ganharam confiança para conseguir lidar com o cão depois”, afirma Manuella.
Nas sessões de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, a galinha faz atividades variadas com pacientes com paralisia cerebral e outros problemas motores, como pegar a bolinha, receber alimentos e ser chamada com sons, gestos e palavras. “Como os tratamentos do Centro são intensivos e de longa duração, percebemos que a Laila motiva os pacientes a fazerem os exercícios e dá um estímulo a mais no processo de reabilitação”, diz a psicóloga.
Para ser co-terapeuta, o animal precisa atender uma série de pré-requisitos e ter um perfil comportamental que o torne apto a trabalhar. Com Laila, não foi diferente. A galinha passou por uma avaliação individual criteriosa de saúde e também de atividades com cães antes de atuar com os pacientes.
A TAA, também conhecida como Pet Terapia, ainda é pouco difundida no Brasil. A prática em que o animal atua como co-terapeuta em áreas da saúde auxiliando no tratamento dos pacientes, entretanto, surgiu em 1792, em um centro de tratamento de pessoas com transtornos mentais, na Inglaterra. Por aqui, pacientes esquizofrênicos tiveram a primeira experiência com o método no início da década de 1950. Os cães e os cavalos são os animais mais utilizados nestes tratamentos.
De personalidade tranquila, Laila cativa a todos com o olhar e fica facilmente no colo, diz a psicóloga. “Laila é sensível e inteligente. Quem permite a aproximação, logo cria um vínculo com ela. Foi o que aconteceu com os pacientes e profissionais”, acrescenta.
Aos dois anos, a galinha vive em uma casa no centro de Curitiba, com Janaína, voluntária do Instituto Cão Amigo & CIA. Ela se alimenta da ração que a própria dona prepara e adora comer mamão.
Cuidados
Na Pet Terapia, o bem-estar animal é um princípio fundamental. Nas visitas à clínica, por exemplo, Laila está sempre acompanhada de sua dona. A galinha participa de sessões a cada 15 dias, fica de 15 minutos a 30 minutos com cada paciente e faz intervalos curtos entre os atendimentos. No total, trabalha em torno de duas a quatro horas. “Trabalhamos com quatro cães e uma galinha. Fazemos um rodízio entre os animais e temos o cuidado de observar o comportamento deles. Sempre que é preciso, fazemos pausas para evitar que eles se estressem demais”, afirma Manuella.
Além do animal, seu dono e a psicóloga, a TAA é executada com o apoio de profissionais da área da saúde. “Nós fazemos um trabalho multidisciplinar com o animal, que atua como um suporte para o paciente em tratamento”, diz.
Segunda a psicóloga, até agora os resultados obtidos nos tratamentos com a galinha Laila são semelhantes ao observado com os cães. “A galinha tem um comportamento bem tranquilo e amigável, parecido com o do cão. Mas independentemente do animal, o resultado do tratamento depende do vínculo que se estabelece entre ele e o paciente. E isso varia conforme a identificação da pessoa, vai funcionar com qual animal ela se sentir mais confortável”, explica Manuella.
Partindo dessa lógica, a psicóloga tem planos de implementar outros animais nos tratamentos do CERNE em um futuro próximo. “Tenho vontade de utilizar coelhos, camundongos e saguis como guias para pessoas com tetraplegia”, conta.