NOTA TÉCNICA – LEISHMANIOSE VISCERAL (LV) EM ALAGOAS
8 de janeiro de 2019 – Atualizado em 08/01/2019 – 12:00am
NOTA TÉCNICA – LEISHMANIOSE VISCERAL (LV) EM ALAGOAS
Em resposta aos questionamentos feitos ao CRMV/AL, no que se refere à atual situação da Leishmaniose Visceral – LV em todo o estado de Alagoas – refletido no crescimento do número de casos confirmados da doença em humanos e animais apontados por Informe TécnIco da Superintendência de Vigilância em Saúde (SUVISA) da Secretaria de Estado da Saúde (SESAU) – a Comissão Regional de Saúde Pública Veterinária (CRSPV) manifesta o posicionamento do Regional alagoano acerca do assunto por meio de nota técnica.
A nota técnica, com orientações e recomendações aos médicos-veterinários, no que diz respeito aos procedimentos a serem adotados, ressalta a importância da prevenção desta importante zoonose de impacto à saúde pública, mas que é uma doença negligenciada. Neste cenário de grande incidência da doença no Estado, a Comissão evidencia não só a necessidade de medidas preventivas, mas também da participação de todos na prevenção e controle da Leishmaniose Visceral em Alagoas.
Leia a íntegra da NOTA TÉCNICA:
NOTA TÉCNICA 01/2019 CRMV-AL
ASSUNTO: Orientação aos médicos-veterinários com relação à importância da notificação da Leishmaniose Visceral Canina (LVC)
Diante do Informe Técnico de 14 de dezembro de 2018, emitido pela Superintendência de Vigilância em Saúde (SUVISA) da Secretaria de Estado de Saúde (SESAU), no qual demonstra a atual situação da Leishmaniose Visceral – LV em todo o estado de Alagoas, a Comissão Regional de Saúde Pública Veterinária – CRSPV do CRMV-AL alerta a importância da prevenção desta zoonose.
Foram confirmados 86 casos de LV em humanos e 17 foram a óbito, no período de primeiro de janeiro a 14 de dezembro do corrente ano, de acordo com dados do SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação e do CIEVS (Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde).
Em caninos, dados oriundos do mesmo período, haviam confirmados pelo Laboratório Central – Lacen, 1.539 animais positivos para Leishmaniose Visceral Canina – LVC, através de sorologia utilizando o ELISA, método preconizado pelo Ministério da Saúde – MS. Esses dados incluem, inclusive, os animais positivos em Maceió, diagnosticados pela Unidade de Vigilância de Zoonoses – UVZ.
Em vista dos questionamentos que o CRMV-AL tem recebido referente aos casos confirmados de LVC, a Comissão Regional de Saúde Pública Veterinária (CRSPV) deste referido Conselho, repassa algumas recomendações aos colegas médicos-veterinários e demais profissionais da área da saúde:
– O médico-veterinário que suspeitar de LVC deve realizar coleta ou encaminhar o animal para exames sorológicos de diagnóstico laboratorial;
– A suspeita pode ocorrer tanto diante de um animal com sintomatologia compatível ou apenas por vínculo epidemiológico (animal ter frequentado áreas de risco ou ser importado de locais/cidades onde há transmissão da doença);
– As informações sobre as áreas de risco dos municípios podem ser adquiridas nas vigilâncias em saúde dos municípios, do Estado ou em consultas em sites oficiais como o do Ministério da Saúde (MS);
– Diante dessa suspeita, o médico-veterinário deve orientar o proprietário/tutor com relação à doença, ao uso da coleira de Deltrametrina 4%, conforme Manual do MS, lembrando que existem outros produtos com princípios ativos diferentes da Deltrametrina 4% que são licenciados pelo MAPA também para controle do vetor da Leishmaniose, e às medidas preventivas, além de informar à Vigilância em Saúde do município;
Em se tratando de áreas com potencial de risco de transmissão, o uso da coleira pode ser estendido aos outros animais do local e das vizinhanças;
– Em caso positivo, o médico-veterinário deve notificar compulsoriamente a Vigilância em Saúde ou órgão similar do município para as providências cabíveis, conforme prevê a Portaria Ministerial/MS nº 204/16, Instrução Normativa do MAPA nº 50/2013.
A Vigilância em Saúde fará os exames confirmatórios no Laboratório Central do Estado (LACEN), conforme protocolo do Ministério da Saúde (MS); Confirmado o caso, o médico-veterinário, juntamente com o proprietário/tutor, poderá optar pelas seguintes medidas sanitárias:
· Eutanásia do animal positivo, seguindo as normas e procedimentos da Resolução nº 1000 do CFMV;
· Comunicar a Vigilância em Saúde do município para orientação em relação ao encaminhamento do animal para realização da eutanásia, assim como sua destinação, nas cidades onde exista esse serviço.
Referente ao tratamento, nesses últimos meses, foi liberado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) o medicamento Milteforan para tratamento de LVC. Ele não é recomendado como medida de saúde pública, mas pode ser adotado como medida individual, com acompanhamento constante do médico-veterinário e sob responsabilidade do mesmo.
Cabe ao médico-veterinário orientar o proprietário/ tutor de que não há cura parasitológica, o risco de transmissão continua e existe a possibilidade de recidivas de sintomas e consequente óbito do animal. Ressaltamos que continua proibida a utilização de drogas de uso humano para tratamento de LVC, conforme Portaria Interministerial MS/MAPA nº 1426/2008.
· Com relação à imunoprofilaxia em cães através de vacina contra a LVC, lembramos que existe somente um laboratório autorizado a produzir e que a mesma é administrada exclusivamente por médicos-veterinários. Segundo orientação do mesmo, a vacinação somente pode ser feita em animais assintomáticos e com resultados sorológicos prévios negativos.
Também é importante destacar e informar aos proprietários/tutores que a vacina não protege 100%, ou seja, os animais vacinados podem adquirir a infecção, se tornarem portadores e transmissores e virem a adoecer e/ou morrer por LVC.
Também ressaltamos a importância de outras medidas de proteção sanitária para os locais onde existir a suspeita ou casos positivos da doença, como a limpeza do pátio, a retirada de matéria orgânica, a manutenção higiênica das criações de animais (galinhas, suínos ou outros), visto que o vetor se multiplica em matéria orgânica.
Lembramos que essa é uma importante zoonose de impacto à saúde pública e uma doença negligenciada. As medidas preventivas são fundamentais para evitar que a doença se alastre no Estado, sendo imprescindível a participação de todos na prevenção e no controle da mesma.
Salientamos que as decisões técnicas com relação à prevenção ou ao tratamento da Leishmaniose são de livre escolha e de responsabilidade técnica do médico-veterinário. Outras informações podem ser obtidas com as Secretarias Municipais ou Estadual de Saúde.
COMISSÃO REGIONAL DE SAÚDE PÚBLICA VETERINÁRIA (CRSPV) DO CRMV-AL