Preceptoria, infraestrutura e casuística são diferenciais para acreditar programas de residência e aprimoramento
8 de julho de 2019 – Atualizado em 08/07/2019 – 12:00am
Em entrevista ao Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), o médico-veterinário e presidente da Comissão Nacional de Residência em Medicina Veterinária (CNRMV), Fábio Manhoso, afirma que “o mercado de trabalho está cada vez mais exigente, necessitando sempre de um bom médico-veterinário que traga em sua bagagem de conhecimentos algo diferenciado”. Para isso, o professor assegura que passar por um programa de residência ou de aprimoramento profissional de qualidade, fundamentado no tripé preceptoria, infraestrutura e casuística, seja fundamental para consolidar o treinamento dos recém-formados.
Para atestar que os programas apresentam o diferencial esperado, o CFMV vai acreditar com um selo de qualidade os projetos que melhor cumprirem as exigências desse tripé mencionado. Com essa referência, o aluno terá a segurança de estar em um curso de excelência.
O professor ainda destaca a importância dos programas de residência ou aprimoramento na formação humanística de seus alunos, fomentando liderança, comunicação e gestão. “São habilidades cada vez mais demandadas pelo mercado de trabalho”, garante.
Manhoso convida as instituições a participarem do primeiro ciclo de acreditação dos programas de residência e aprimoramento do CFMV, que está com as inscrições abertas até 16 de agosto. “Sempre teremos como meta a qualidade, visando proporcionar o melhor ensino ao jovem que, por meio do seu sonho, almeja conquistas em sua carreira profissional”, afirma.
O professor ainda coloca a Comissão à disposição das Instituições de Ensino Superior que queiram construir seus programas de residência ou aprimoramento, bem como àquelas que buscam implementar melhorias nos já existentes. “Tenho certeza que a diretoria também tem essa visão empreendedora e agradecemos a atual gestão do Conselho, especialmente o presidente Francisco Cavalcanti, por esse investimento no ensino, uma de suas principais bandeiras”, reconhece.
Confira a entrevista.
1. Com qual objetivo o CFMV resolveu criar o Sistema de Acreditação?
Fábio Manhoso: O Sistema de Acreditação nos Programas de Residência e Aprimoramento em Medicina Veterinária vem como um instrumento de qualificação dos programas que querem se destacar no cenário educacional e que atendam às diretrizes apresentadas nas Resoluções do CFMV (1269/2019, 1094/2015 e 1076/2014) para tal. As exigências qualificam ainda mais esses programas e o selo servirá à sociedade como fonte de qualidade, bem como dará um norte aos recém-formados na escolha de onde cursar. O CFMV está sempre atento à formação profissional, desde à graduação até à pós-graduação. É importante deixar claro que a acreditação é voluntária, aberta às instituições dentro de critérios pré-estabelecidos no próprio edital e busca justamente dar essa chancela do CFMV para esses programas que representam um diferencial dentro do que é ofertado hoje no país nessa modalidade de ensino.
2. Como chegaram ao modelo das avaliações in loco? Foi realizado algum projeto piloto?
Fábio Manhoso: A CNRMV realizou quatro projetos piloto justamente para testar o sistema de acreditação. Os primeiros estudos começaram ainda na gestão passada, quando se realizou primeiramente junto a uma Instituição Estadual com Residência, a Universidade do Estado de Santa Catarina, campus Lages e, posteriormente, em uma instituição privada com Aprimoramento, a Universidade de Marília, localizada no interior de São Paulo. Agora, na atual gestão do Conselho, para alinhar o processo com todos os membros da comissão que farão a avaliação in loco, foram realizados mais dois testes, um na Universidade Estadual do Maranhão, que possui Aprimoramento e outro na Universidade Federal do Piauí, com Residência. Dessa forma, nós fechamos o leque e conseguimos trabalhar com programas de residência e de aprimoramento, nas três categorias administrativas: federal, estadual e privada.
3. O que uma instituição ganha em ser acreditada pelo CFMV? E qual o ganho para a sociedade?
Fábio Manhoso: Uma instituição que tem o seu programa de residência ou aprimoramento acreditado já mostra à sociedade o cunho qualitativo. Ganha a chancela do CFMV, atestando que o programa cumpriu as exigências das diretrizes para tal conquista. Sem dúvida é um ganho para a sociedade que vai utilizar dos serviços dessa instituição e também desses pós-graduandos nos atendimentos que realizarão em seus treinamentos. Também é um ganho muito grande para a Medicina Veterinária, pois o CFMV entende que, para termos uma profissão forte e consolidada, é necessário trabalhar a base. E a base é o ensino. Lembrando que a Acreditação apresentada pelo CFMV contempla também a graduação, que já está em seu terceiro ciclo, trazendo essa conquista também para os programas de residência e aprimoramento profissional.
4. Quais são os diferenciais que permitirão uma instituição a ser acreditada?
Fábio Manhoso: Dentro do propósito da acreditação, a instituição, de forma voluntária, precisa se cadastrar e responder a todas as perguntas do questionário padrão e anexar o projeto pedagógico, informando, por exemplo, sobre a caracterização desses programas, número de vagas, e etc. É importante deixar claro que o residente e o aprimorando são alunos. O objetivo dos programas é realmente a complementação, o aprimoramento na essência da palavra, pois eles são alunos, não substituem o docente, nem o médico-veterinário. Por isso, a avaliação da residência e do aprimoramento profissional está alicerçada num tripé fundamental: preceptoria, infraestrutura e casuística. São as questões que a Comissão será bastante exigente, porque são os fatores de caracterização de um programa. Primeiro, a preceptoria, pois, como estudantes eles atuam no sentido do aprendizado de uma forma qualitativa e eles necessitam obrigatoriamente do acompanhamento, da presença de corpo docente qualificado, de orientação em período integral. A questão da infraestrutura é fundamental em termos de equipamentos que deem segurança para o pleno exercício de uma Medicina Veterinária diferenciada nas diversas áreas que comportam os programas dentro de um hospital veterinário, de um laboratório ou até mesmo de uma fazenda experimental. Então, será avaliada a necessidade de uma infraestrutura que realmente dê o suporte para o pleno exercício desse aprendizado. E a casuística que é a ferramenta desse aprendizado diferenciado e único. É nela que se ampara o exercício do treinamento em serviço.
5. Como o selo pode contribuir para a melhoria da qualidade dos programas? E os reflexos no mercado de trabalho, é possível fazer essa relação de melhoria também?
Fábio Manhoso: O mercado de trabalho está cada vez mais exigente. O Brasil hoje forma mais de cinco mil médicos-veterinários por ano nos seus 387 cursos de Medicina Veterinária espalhados por todo o território, às vezes até de uma forma não planejada e que não configura a necessidade em determinadas regiões. Costumo dizer que quando um aluno está na graduação ou um residente ou aprimorando está cursando seus programas, que eles estão num aquário, no sentido de ter água limpa, temperatura controlada, alimentação na hora certa, cuidados com saúde, ou seja, estão numa situação muito confortável. A partir do momento que eles encerram e vão para o mercado, eles sentem na pele essa exigência cada vez maior, essa competição que, às vezes, é até um pouco patológica em alguns momentos. Mas para aqueles que buscam o diferencial, aqueles que trazem na bagagem esse algo a mais, afirmo que o mercado está sedento por esse perfil. O Brasil não precisa de mais um médico-veterinário simplesmente, precisa sim de bons médicos-veterinários. A sociedade clama por bons profissionais, que tomem atitude, que tenham liderança e que saibam se posicionar. Muito se preza pela formação técnica e às vezes esquecemos dessa formação humanística, que é uma exigência muito grande da própria sociedade em que vivemos, que faz parte, inclusive, das diretrizes curriculares dos cursos de Medicina Veterinária e que devem ser trabalhadas desde a graduação. Não tenho dúvida que nos programas de residência e aprimoramento isso se aflora, uma vez que o residente e o aprimorando é colocado de frente para o tutor, para o proprietário, para o pecuarista, e passa a exercitar também de uma forma muito efetiva esse trabalho na liderança, de saber falar, de se posicionar, de olhar para os lados e ter uma visão muito mais ampla e humanista. É esse profissional que é muito requisitado, valorizado e são essas características que se esperam de um egresso, uma vez que se sabe que ele passou por um período de capacitação e realmente trabalhou de forma ativa. Não tenho dúvida de que os programas de residência ou aprimoramento representam um grande investimento na carreira do profissional médico veterinário, não somente do ponto de vista técnico, mas também pessoal.
Assessoria de Comunicação do CFMV