Em reunião, CFMV e Câmara Temática de Equinocultura do Ceará discutem a situação do mormo no Brasil
Na segunda-feira (21), o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) sediou a reunião da Câmara Temática de Equinocultura da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), em Brasília (DF), com transmissão on-line via plataforma Zoom.
O presidente da câmara temática, Renan Monteiro, solicitou o encontro para discutir a situação do mormo no país e os efeitos da Portaria Mapa nº 593/2023, que afetou o trânsito de equídeos no território nacional.
O debate concentrou-se, sobretudo, na epidemiologia da doença, no diagnóstico clínico e laboratorial, principalmente, nos animais assintomáticos. Teve a presença de presidentes e representantes dos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária (CRMVs), médicos-veterinários, profissionais das agências de defesa sanitária, membros de universidades, laboratórios e pesquisadores.
Um dos pontos preocupantes da portaria é que o reconhecimento de casos suspeitos ocorra apenas entre os animais que apresentam manifestação clínica, reduzindo a perspectiva de detecção laboratorial precoce, etapa indispensável ao monitoramento e controle da enfermidade, e à própria eficiência do Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos do Ministério da Agricultura e Pecuária (PNSE/Mapa).
Para Monteiro, a normativa do Mapa pode gerar desiquilíbrio no plantel entre equídeos sadios e assintomáticos, com reflexos significativos à equideocultura brasileira e à defesa sanitária animal.
“O nosso encontro foi importante para consolidarmos um alinhamento, visando à solução com passos firmes e seguros para a garantia da sanidade dos equídeos e de todos envolvidos na cadeia”, assinala o presidente, que defende uma cooperação mútua entre as iniciativas pública, privada, as universidades, o Sistema CFMV/CRMVs e os governos.
O presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Goiás (CRMV-GO), Rafael Vieira, que atua na defesa sanitária do estado de Goiás, compartilha a mesma opinião: “é preciso uma atuação uníssona para a efetividade da defesa sanitária animal”.
Contraponto
O médico-veterinário Walnei Paccola, convidado da Câmara Temática de Equinocultura do Ceará, apresentou alguns contrapontos, a partir dos anos de atuação como clínico veterinário de cavalos, em relação ao diagnóstico e à efetividade das ações do PNSE para vigilância e controle da doença, colocando em dúvida a ocorrência do mormo em território brasileiro.
No que o médico-veterinário Rinaldo Mota, docente da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), discordou das observações apontadas por Paccola e afirmou que a doença existe no Brasil.
“O contraditório oferece uma oportunidade para se aprofundar a discussão sobre o tema e é extremamente produtiva para o setor, no entanto, é importante ressaltar que contestar a ocorrência do mormo no Brasil, neste momento, parece-me contraproducente”, ponderou Mota, que tem artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais a respeito do isolamento da bactéria Burkholderia mallei, causadora do mormo.
“Esse tipo de afirmação é inadmissível e desvaloriza o trabalho de anos de pesquisadores, uma vez que já conseguimos isolar o agente infeccioso, com a identificação fenotípica e genotípica, inclusive com o estudo do genoma bacteriano, em conjunto com a Embrapa e pesquisadores franceses da Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH)”, esclarece.
De acordo com o professor, o mormo pode apresentar características clínicas e epidemiológicas diferenciadas em determinadas regiões do país, o que deve ser levado em consideração nas discussões da normativa do Mapa.
Diagnóstico do mormo
O médico-veterinário Flábio Araújo, pesquisador da Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande (MS), apresentou o estudo sobre os avanços do diagnóstico do mormo no Brasil. A análise, que verificou os resultados do teste de PCR de amostras de animais de diferentes estados do país, mostrou que a maioria apresentou resultado positivo, independentemente da manifestação de sinais clínicos da doença. A pesquisa foi realizada em parceria com o Instituto Biológico de São Paulo e a UFRPE.
O médico-veterinário Gilson Buonora endossa o raciocínio de Araújo. “Não podemos desacreditar todos os pesquisadores que estudam o mormo há tantos anos”, afirma ele, alertando para a necessidade de serenidade e proatividade na resolução da questão.
O professor de Patologia Animal da UFRPE Fernando Leandro dos Santos fez um resgate histórico do mormo, a partir do diagnóstico clínico e sorológico da doença e do isolamento da bactéria Burkholderia mallei. O professor enfatizou que a sua preocupação é justamente com os soronegativos, uma vez que se trata de uma doença bacteriana com ciclos específicos, apresentando oscilações na sorologia.
Segundo Santos, uma política que se define pela eutanásia de animais deve estar sob permanente questionamento, assim como a atenção ao diagnóstico, por ser uma enfermidade que gera prejuízos econômicos, com perdas significativas do plantel e de todo o trabalho de melhoramento genético realizado.
Iniciativas do CFMV
Em julho, membros do CFMV reuniram-se com representantes da Associação de Laboratórios da Rede Credenciada Oficial do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Rede PNSE) e também com os presidentes e integrantes das comissões técnicas do Sistema CFMV/CRMVs. O objetivo dos encontros foi discutir os efeitos da Portaria Mapa nº 593/2023. Neste sentido, o conselho federal também enviou ofício ao Mapa, solicitando audiência em caráter de urgência.
“Como médicos-veterinários, não vamos esperar a doença se disseminar para a saúde humana. Devemos trabalhar pela erradicação de forma científica, técnica e politicamente, visando sempre o bem-estar e a proteção da sociedade”, assinala o presidente do CFMV, Francisco Cavalcanti de Almeida.
Participaram da reunião os representantes do CFMV, além do presidente: Célio Garcia, conselheiro; Erivânia Camelo, chefe de Gabinete; e Cyrlston Valentino, diretor jurídico. Pela Câmara Temática de Equinocultura do Ceará, também estiveram presentes Mayra Pinheiro e Sandra Bosco. Juntaram-se a eles a médica-veterinária Glaucia Dias, proprietária do Santé Laboratório e representante da Associação de Laboratórios Agropecuários credenciados ao Mapa.
Como integrantes dos CRMVs, participaram os médicos-veterinários Jordana de Almeida e Silva, presidente da Comissão de Sanidade Animal do CRMV-GO; e João Alves, pelo CRMV-PE. De forma on-line, participaram também o presidente do CRMV-BA, Altair Santana; Rinaldo Mota, professor da UFRPE; Najla Wanderley, da Rede PNSE; José Roberto de Andrade Lima, médico-veterinário e coronel do Exército Brasileiro; entre outros.
Assessoria de Comunicação do CFMV