Animais sentinelas e a disseminação de zoonoses
11 de setembro de 2017 – Atualizado em 11/09/2017 – 12:00am
O papel das doenças, como um importante fator para a sobrevivência das espécies, esteve sempre atrelado às mudanças antrópicas em escalas local, regional e global, com impactos diretos e indiretos na saúde humana e não humana. Mudanças como degradação de habitats, aumentando a proximidade de populações de animais com comunidades humanas têm causado o aparecimento de doenças emergentes.
Algumas espécies de animais funcionam como sentinelas, ajudando a monitorar a saúde dos ecossistemas. Os sentinelas esclarecem aspectos ecológicos e sanitários das populações animais, os quais contribuem para o entendimento da dinâmica das paisagens fragmentadas e de suas populações existentes. Eventos epidemiológicos registrados nas populações de animais auxiliam na identificação da circulação e da rota geográfica de doenças nos ambientes onde os seres humanos possam ser expostos e contaminados.
Animais silvestres doentes são fontes de informações e pesquisas, eles agem como sentinelas em relação à circulação da doença, pois, através de observação de mortes ou debilidades, surgem suspeitas e estas devem ser diagnosticadas. Eles servem como sinalizadores para o eventual risco do aparecimento da doença na população humana, possibilitando a adoção de medidas profiláticas.
Ultimamente, os animais silvestres – na maior parte dos casos de repercussão os primatas – têm sofrido agressões devido à falta de informação da população por medo de transmissão de zoonoses. Animais que são agredidos muitas vezes ficam incapacitados de retornar a natureza, deixando de cumprir seu importante papel ecológico no ecossistema.
Vale ressaltar que, segundo a Lei: 9.605/98, Art. 29: “matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente ou em desacordo com a obtida” é crime ambiental, podendo gerar pena de seis meses a um ano de detenção, mais multa de R$ 500 a R$ 5.000 reais por indivíduo (IBAMA, 2017; ICMBIO, 2017b).
Matar o animal por agressão e não notificar a autoridade competente, para o desenvolvimento de diagnósticos, põe em maior risco a saúde da população, pois a disseminação das zoonoses se tornará oculta.
Dra. Ana Cecília Pires de Azevedo Lopes
Médica Veterinária – CRMV/AL nº 00705
Membro da Comissão Regional de Saúde Pública Veterinária do CRMV-AL