Nota técnica do Ministério da Saúde sobre manejo de animais de companhia clinicamente suspeitos ou expostos à infecção pelo Monkeypox Vírus
12 de setembro de 2022 – Atualizado em 12/09/2022 – 2:05pm
Em 23 de julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a doença causada pelo vírus Monkeypox é uma emergência de saúde pública de interesse internacional. Em virtude da gravidade, a legislação eleitoral vigente no momento permite a publicação de comunicados nos casos de potenciais prejuízos à sociedade brasileira. Diante do cenário de urgência, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) divulga a Nota Técnica nº 96 do Ministério da Saúde (MS) com as recomendações sobre o manejo de animais de companhia clinicamente suspeitos ou expostos à infecção pelo Monkeypox Vírus. O documento foi enviado às secretarias estaduais de saúde, no dia 6 de setembro, por meio do Ofício Circular nº 194.
A nota foi elaborada porque, em agosto de 2022, o ministério recebeu a notificação de um cão com lesões sugestivas da doença, com resultado detectável para Monkeypox Vírus, mantendo-se em investigação para verificação da infecção. A ocorrência, segundo o MS, foi na cidade de Juiz de Fora (MG), e se deu em um filhote de cachorro de cinco meses em convívio no mesmo ambiente com um humano com diagnóstico confirmado para a doença.
O animal teve os primeiros sintomas no dia 13 de agosto, com prurido (coceira), lesões e crostas no dorso e pescoço. Como a transmissão do vírus geralmente ocorre pelo contato com as lesões, fluídos corporais e gotículas respiratórias de pessoas ou animais infectados, os órgãos de saúde do estado e do município recomendaram o isolamento do animal e a desinfecção do ambiente reservado para a quarentena com água sanitária.
As mesmas práticas devem ser adotadas, se outros casos forem identificados em animais. Para obter informações sobre medicamentos e tratamentos, o indicado é consultar um médico-veterinário.
Conduta
A suspeita clínica de Monkeypox em animais deve ser incialmente levantada somente quando houver histórico de contato com um caso humano confirmado para a doença e que, adicionalmente, eles apresentem lesões como erupções cutâneas, tais como: máculas, pápulas, pústulas ou vesículas, podendo estar acompanhado de letargia, falta de apetite, tosse, secreções ou crostas nasais e/ou oculares.
Em busca de evitar uma possível transmissão entre animais ou do animal para um ser humano, recomenda-se separar o animal doente de outros animais e impedir que ele mantenha contato direto com pessoas até a recuperação total das lesões de pele.
Não é recomendado a higienização de animais com a utilização de produtos químicos e deve ser garantida a assistência veterinária, de responsabilidade do tutor do animal.
No atendimento de um animal suspeito para Monkeypox, recomenda-se ao médico-veterinário:
- Utilizar Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), como luvas descartáveis, proteção para os olhos (óculos de segurança, óculos de proteção ou protetor facial), máscara facial ou respirador bem ajustado, avental descartável. Caso não esteja disponível, use roupas que cubram totalmente a pele, ou seja, camisas com mangas e calças compridas;
- Remover cuidadosamente o EPI para evitar a autocontaminação;
- Após a remoção do EPI, utilizar uma solução para as mãos à base de álcool 70% ou lavar as mãos com água e sabão;
- Descartar materiais utilizados em sacos de risco biológico para manuseio como resíduos infectantes, conforme normatização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – Resolução – RDC nº 222/2018;
- Utilizar uma lixeira forrada e dedicada para todos os resíduos potencialmente contaminados.
- Notificar o caso suspeito à secretaria de saúde de seu município.
Confira as orientações na Nota Técnica do Ministério da Saúde.
Não abandone
Assim como o Ministério da Saúde, o CFMV reforça a importância da guarda responsável e que os animais expostos à Monkeypox não devem ser abandonados.
Tampouco recomenda-se a eutanásia, haja vista ser uma doença viral tratável, de baixa letalidade e que terá seu ciclo de infecção por um período.
A culpa não é do macaco
O vírus Monkeypox foi descoberto em 1958 e teve origem em roedores silvestres e esquilos no continente africano. No entanto, os primeiros casos notificados da doença foram em macacos, o que levou à denominação infeliz da doença, uma vez que os animais são tão vítimas quantos os humanos.
Apesar de receber a nomenclatura inadequada de varíola dos macacos, o atual surto não tem a participação dos animais na transmissão para seres humanos. Pelo contrário, até o momento, os casos notificados às agências de saúde no mundo foram atribuídos à contaminação por transmissão entre pessoas e agora, no Brasil, de humano para um animal de companhia.
Para evitar estigmatização ou violência contra os animais, a OMS abriu consulta pública para alterar o nome da doença. Atualmente, a recomendação é nomear vírus recém-identificados, doenças relacionadas e variantes de forma que se evite “ofender qualquer grupo cultural, social, nacional, regional, profissional ou étnico” e reduzir qualquer impacto negativo no comércio, viagens, turismo ou bem-estar animal.
Em carta aberta, a Sociedade Brasileira de Primatologia expressou preocupação com a agressão infundada aos macacos causada pela desinformação. De acordo com a entidade, “cerca de uma em cada cinco espécies de primatas está ameaçada de extinção”. O grupo pede proteção aos macacos e reforça o papel dos animais no equilíbrio dos ecossistemas e da biodiversidade.
Emergência
A partir do anúncio da OMS, elevando o nível de preocupação com a doença e a necessidade de ampliar a capacidade de contenção da sua transmissão, ainda em julho, o ministério estabeleceu o Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública para Monkeypox.
A estrutura foi ativada como resposta coordenada do Sistema Único de Saúde (SUS) à emergência, o que inclui o Plano Nacional de Contingência e os alertas aos profissionais de saúde de rede privada ou pública sobre a notificação obrigatória e imediata de casos suspeitos às autoridades de saúde pública e vigilância, em até 24 horas, conforme disposto na Portaria GM/MS nº 1.102, de 13 de maio de 2022.
Antes disso, em maio, a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS) já havia ativado a Sala de Situação de Monkeypox para compartilhar documentos técnicos e disseminar, com agilidade, informações fidedignas sobre medidas de proteção e controle, além de monitorar a investigação dos casos.
Conselho Federal de Medicina Veterinária