Prêmio Octávio Domingues é entregue à zootecnista Maria Norma Ribeiro na abertura do Zootec 2015
15 de junho de 2015 – Atualizado em 15/06/2015 – 12:00am
A zootecnista Maria Norma Ribeiro é a vencedora do prêmio Professor Octávio Domingues de 2014 – Zootecnista do Ano, entregue na noite do dia 27 de maio, durante a abertura do XXV Congresso Brasileiro de Zootecnia (Zootec). O prêmio é entregue anualmente pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) a zootecnistas brasileiros que tenham realizado relevantes serviços ao desenvolvimento agropecuário do país.
“O prêmio é muito importante, pois respalda todo o trabalho que venho desenvolvendo ao longo dos meus 25 anos de carreira. Me sinto feliz e lisonjeada, é como um certificado da sociedade e de meus pares que reconhecem esse trabalho que tanto amo”, agradece Ribeiro.
O presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, destaca que o prêmio Octavio Domingues é a maior premiação dada ao zootecnista que tenha contribuído para o desenvolvimento brasileiro. “É uma premiação única, que reconhece o trabalho profissional não só do ponto de vista econômico-social, mas também no aspecto da produção sustentável. Somente um profissional é agraciado anualmente, o que fortalece a premiação, uma vez que não é um festival de medalhas”, afirma Arruda.
Qualquer pessoa física ou jurídica pode indicar nomes para o prêmio. Para 2015, as indicações estão abertas e podem ser feitas até 30 de julho.
O envio de indicações pode ser feito por correio para o CFMV no seguinte endereço:
Conselho Federal de Medicina Veterinária
SIA Trecho 6, lt.130 e 140, Brasília-DF, CEP 71205-060
com a indicação “Indicação para o Prêmio Professor Octávio Domingues”, ou pelo e-mail: cfmv@cfmv.gov.br
Saiba mais sobre a premiada
Norma Ribeiro é titular da Universidade Federal Rural de Pernambuco na área de Conservação e Melhoramento de Recursos Genéticos de Animais Domésticos. Graduada em Zootecnia pela Universidade Federal da Paraíba (1987), possui mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal da Paraíba (1990) e doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1997). Atualmente, é professora associada da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Possui pós-doutorado na Universidade de Florença (2014), Itália, com o estudo “Etnozootecnia de raças ovinas ameaçadas e implicações para a conservação”.
Recebeu em 2003 medalha da Federação Ibero-Americana de Raças crioulas por contribuição dada à área de conservação de raças no âmbito ibero-americano e, em 2006, recebeu prêmio de orientadora da melhor tese defendida no ano de 2005, trabalho que teve como tema central o estudo comparativo entre as raças nativas de caprinos do Brasil e Espanha, desenvolvida dentro do Programa CAPES MECD-DGU.
Confira abaixo mini-entrevista com Maria Norma Ribeiro
Qual é a importância, para a senhora, em receber o prêmio Professor Octávio Domingues? O que este prêmio representa?
Receber um prêmio dessa magnitude representa, para mim, o reconhecimento por todo trabalho realizado em prol do Ensino, Pesquisa e Extensão Universitária com Melhoramento e Conservação no âmbito nacional e Iberoamericano. O nosso trabalho sempre foi focado no desenvolvimento de ações de Ensino Pesquisa e Extensão para a agropecuária sustentável de base familiar e, esse prêmio contribui para dar vez e voz aos atores desse nosso trabalho, que são os criadores que desenvolvem a criação de pequenos ruminantes em base familiar. A eles, minha homenagem, por terem sempre me apoiado nessa trajetória profissional aos longo desses 25 anos de carreira docente na Zootecnia.
O melhoramento genético é uma das áreas mais conhecidas da Zootecnia. Pode contar um pouco sobre a sua atuação e como é o seu dia a dia dentro desta área?
Minha carreira de melhorista tem sido dedicada a fazer gestão para caraterização das raças ameaçadas e para consolidação de bancos de dados das raças, pois esse é um dos fatores limitantes para os programas de melhoramento, notadamente no Nordeste do Brasil, onde atuo.
Outro aspecto de maior importância é a conservação de raças locais em perigo. Essas precisam de um trabalho de longo prazo. Tenho me dedicado ao Ensino, Pesquisa e Extensão de raças locais de pequenos ruminantes que são de grande importância para a região, a exemplo dos caprinos. Estas raças estão altamente ameaçadas, com rebanhos reduzidos e altos índices de consanguinidade.
Venho trabalhando nas etapas que antecedem o melhoramento propriamente dito, que é caracterização genética para conhecermos a situação da estrutura genética dessas populações. Essas são tarefas que demandam tempo, mas sem esse trabalho de base não poderemos estabelecer futuros programas de melhoramento sustentáveis.
Se a diversidade genética é a ferramenta básica de trabalho dos melhoristas, a conservação dessa biodiversidade deveria ser o primeiro objetivo de um programa de melhoramento, sob pena de perdermos a genética de origem das raças em questão e colocarmos em risco os programas de melhoramento e das próprias raças-alvo dos programas.
Além do melhoramento genético, em que outras áreas atua?
Além do Melhoramento, atuo nas de Produção de Caprinos e Ovinos e na área de Conservação de raças em perigo. Porém, a Conservação não é uma área específica. Ela é uma interfase entre o Melhoramento e todas as outras áreas da Zootecnia. Se todas as áreas da Zootecnia trabalhassem visando o equilíbrio entre produção de alimentos e manutenção das raças locais, do seu ambiente e da cultura que as envolve, não haveria necessidade de fazer subdivisões de áreas. Do meu ponto de vista, a conservação da biodiversidade deveria ser o pano de fundo que suporta e norteia toda a produção animal em todo o mundo. Pode parecer utópico, mas esse cenário vem mudando, mesmo que a passos lentos, e a Zootecnia do futuro não pode prescindir dessa abordagem integradora.
Em sua opinião, qual é a importância da especialização para o zootecnista?
Acredito e defendo que o profissional zootecnista deve ter sua área de especialização, mas deve desenvolver um perfil que consiga estabelecer um diálogo e se articular com as demais áreas do conhecimento. Essa integração entre as áreas é fundamental para a Zootecnia do futuro. Ela exige conhecimentos básicos (genética, reprodução, nutrição e saúde animal) e afins (Economia Rural, Sociologia Rural, dentre outras).
Com essa visão, realizei um pós-doutorado em Portugal na área de Genética Molecular de 2009 a 2010 e, de 2013 a2014 desenvolvi um outro na Itália com Etnozootecnia, ciência que nos auxilia a fazer a conexão entre os saberes da academia (acadêmicos) e da comunidade que lida com os animas (saberes locais) de modo a propor métodos adequados para o manejo e uso dos recursos genéticos baseados nas necessidades dos criadores.
Essa caminhada do laboratório ao mundo do criador foi essencial para melhor conhecer a realidade deles, sua cultura e o modo como tudo isso contribuiu para a formação das atuais raças locais ao longo dos tempos. Com essa abertura mais ampla podemos ver, entender e propor mudanças sustentáveis para a Zootecnia brasileira.
Que áreas da Zootecnia a senhora destaca como emergentes e que ainda precisam ser mais conhecidas? Por quê?
Não somente para os países em desenvolvimento mas para todo o mundo, a área de qualidade de produtos associada à questão da conservação de raças é imperativa. Alguns já acordaram e já estão correndo atrás do prejuízo mas, a maioria ainda continua pensando que a Zootecnia se baseia apenas em sistemas intensivos de criação, com grande quantidade de insumos. Tive a oportunidade de vivenciar em Portugal, Espanha e Itália belas experiências desse tipo de produção animal sustentável de base familiar com raças locais e agregação de valor aos produtos (carne e queijo) e acredito que estamos caminhando nessa direção. As bases estão sendo estabelecidas para a caracterização de raças e seus produtos. Esse é um caminho sem volta, a Zootecnia do futuro exige isso.
E para os futuros estudantes de Zootecnia e futuros profissionais, o que a senhora pode dizer sobre o dia a dia da profissão que eles provavelmente não sabem?
Os futuros profissionais Zootecnistas precisam alargar seus horizontes , pois a Zootecnia é muito mais que apenas sistemas intensivos de produção com raças exóticas e alta quantidade de insumos. Devem saber que, segundo relatórios da FAO, 30% dos alimentos que chegam às nossas mesas são produzidos em pequenas propriedades rurais de base familiar e que têm como base os recursos genéticos locais, notadamente pequenos ruminantes.
O Brasil é o país de maior biodiversidade no mundo e é também aquele que mais perde essa diversidade. O futuro profissional da Zootecnia tem um grande desafio pela frente. Conhecer essa realidade e assumir o compromisso de atuar nesse cenário tendo como premissa a conservação das raças, das populações humanas que detém esses recursos bem como sua cultura. Essa será a base para quem pretende trabalhar no caminho da sustentabilidade.
Assessoria de Comunicação do CFMV